Quem é Cesar O artista e tio-avô
Cesar Papa, artista plástico. Nascido em 1953, no estado de Minas Gerais. Sexto entre oito irmãos e irmãs. Desde criança, já demonstrava aptidão e interesse pelo universo artístico.
Integra, em 1982, a primeira turma de Artes Plásticas na recém inaugurada Faculdade Dulcina de Moraes, Brasília. Nos anos seguintes, participa de exposições e salões e inicia a série “Mulheres”, a qual desenvolveria até o fim de sua vida. Em 1986, César se muda para Laguna Beach, Califórnia, em busca de uma carreira no mercado de arte e onde realiza exposições coletivas e individuais. Ele registrou grande parte desse processo e da descoberta de um artista dentro de si em cartas enviou para a família, em fotos e em obras espalhadas pelo mundo.
Em 1989, César descobre a AIDS e opta por um retorno ao Brasil. Falece em 1990, em Brasília - DF.
Ele também foi meu tio-avô. Eu não conheci o Cesar pessoalmente.
Los Angeles (Venice Beach) ago/86 Essa praia é a praia mais maluca do mundo. Vale a pena andar só pra ver os tipos que a frequentam. Fascinante! Veja foto nº #57
"Vocês amariam ter se conhecido" O início deste projeto
Eu encontrei fotos, muitas delas. Fotografias que pessoas guardaram dele, fotografias que ele mesmo decidiu guardar. No verso, sempre algumas linhas escritas: data, lugar, quem estava na foto, talvez algumas impressões sobre o lugar ou a cidade.
Ao longo dos últimos cinco anos, encontrei meu tio-avô em alguns de seus documentos pessoais, em inúmeras fotos e cartas – escritas, em vídeo e em áudio. Consolidei um grande número de itens que hoje integram uma coleção de mais de 700 objetos, e contam muitas histórias sobre uma vida. Eu ouvi Cesar: a ópera que ele deixou tocando como trilha sonora, porque ele estava triste e sentia falta do Brasil. Seus longos tragos no cigarro. O som do lápis no papel, porque ele gravava suas audio-cartas enquanto desenhava.
Seu cuidado e preciosismo com a informação me chamaram a atenção desde o início. Seria possível conhecer alguém apenas pelas memórias – histórias que as pessoas compartilham comigo, cartas e fotografias que Cesar deixou?
Hoje, de alguma forma, eu posso dizer que conheço o Cesar.
Laguna Beach, 86 "enquanto eu estou fazendo um desenho, minha cabeça está rodando em cima de outros, entendeu? tem sempre um caderno aqui com mil estudos que eu vou fazendo à medida que me vêm à cabeça..."
O retrato de um artista Três segmentos deste projeto
Cesar foi artista, imigrante, um homem gay. Ele era apaixonado pela vida.Entre os mais próximos ou aqueles que o conheceram apenas por um dia, Cesar ainda os emociona quando falam nele. Cesar é uma lição de como viver e amar.
Como artista e pesquisadora, em meu trabalho celebro os documentos que minha família guardou dele. Lanço perguntas às fotografias, busco os detalhes e deixo que esses itens falem comigo. Assim, tento dar vida a essas memórias.
Este projeto também honra os arquivos de família: enquanto buscamos ancestralidade em museus e arquivos, nossas coleções e história oral têm algo a dizer. Cesar é o que perdemos aos poucos para a tecnologia e o tempo – enquanto lotamos celulares e HDs sem nos perguntas por quê ou como encontrar depois. Cesar é a cultura da memória – o que muitos não tiveram o direito de ter, e também que alguns governos gostariam de ver esquecidos.
Até o momento, este projeto tem três segmentos: